Cidades
têm papel de destaque no combate à mudança do clima, diz especialista
- 24/02/2016 19h02
- Fortaleza
Edwirges
Nogueira - Correspondente da Agência Brasil
Num cenário em que mais de 80% da
população brasileira vive no ambiente urbano, as cidades assumem papel de
protagonistas na implementação de ações sustentáveis e no enfrentamento às
mudanças climáticas. Até amanhã (25), em Fortaleza, gestores municipais,
pesquisadores e entidades nacionais e internacionais debatem as
responsabilidades, os desafios e as oportunidades dos governos locais diante
dessa realidade.
A 2ª Jornada sobre Cidades e
Mudanças Climáticas ocorre após a 21ª Conferência das Partes da Convenção da
Organização das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP 21), realizada em
dezembro de 2015, na França, quando os governos estaduais e municipais foram
considerados atores fundamentais na construção de ações sustentáveis no
ambiente urbano.
“O engajamento dos governos
locais foi acontecendo paulatinamente nos últimos cinco, dez anos. Começamos a
ver algumas prefeituras tomando à frente em ações, fazendo inventários de
emissões de gases [de efeito estufa] e começando a discutir o que pode ser
feito para assegurar que a qualidade de vida da população não seja tão
impactada pela intensificação dos desastres naturais”, disse o
secretário-executivo do Observatório do Clima, Carlos Ritll.
Esse engajamento, segundo Ritll,
não passa somente pela adaptação aos efeitos das mudanças climáticas. Para ele,
as cidades precisam com urgência realizar ações para mitigar a emissão de gases
de efeito estufa, que agravam o aquecimento global.
Como exemplo dessa urgência,
Ritll lembrou que 30% das cidades brasileiras decretaram situação de calamidade
devido a desastres naturais. No Ceará, segundo Observatório do Clima, 83% dos
municípios estão em emergência por conta da seca, que já se estende pelo quinto
ano seguido.
Ações locais
Segundo o especialista, poucas
cidades brasileiras têm políticas voltadas para a sustentabilidade e, diante do
atual cenário, é preciso que elas se apressem para dar conta dos desafios do
meio ambiente.
“As cidades começam a perceber a
seriedade do assunto, mas são poucas as que pensam o caminho do seu desenvolvimento
voltado para um momento em que o clima fica cada vez mais difícil. Existe uma
evolução clara, mas ainda muito lenta. Precisamos que essa agenda ande mais
rápida”, avaliou.
Para o prefeito de Belo Horizonte
e presidente da Frente Nacional de Prefeitos (FNP), Márcio Lacerda, há soluções
que as cidades podem desenvolver de forma independente, mas é importante haver
um alinhamento com políticas nacionais mais amplas.
“As questões sobre saneamento,
áreas verdes, resíduos sólidos e transporte são parte de um conjunto muito
grande de ações que podem ser tomadas localmente e que não dependem de
políticas nacionais. Há esse espaço de criatividade e de mobilização local, mas
é importante a coordenação nacional de uma série de políticas”.
Na COP 21, o Brasil apresentou
metas ambiciosas de redução de emissões. O país quer, por exemplo, alcançar 23%
de participação de fontes renováveis (excluindo hidrelétricas) na matriz
energética, o dobro do percentual atual. De acordo com o secretário interino de
Mudanças Climáticas e Qualidade Ambiental do Ministério do Meio Ambiente,
Adriano Santhiago de Oliveira, o alcance dessas metas passa pela contribuição
das cidades.
“As cidades terão um papel
fundamental no alcance de todos os objetivos, como reflorestamento, recuperação
de áreas degradadas. Mais do que isso, os municípios precisam estar preparados
para a questão da adaptação. Existe uma mudança do clima que já está
comprometida, vai acontecer, e os municípios terão que estar preparados porque,
no final das contas, o impacto de um problema que é causado globalmente vai
acontecer localmente”.
Edição: Luana
Lourenço
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