Vale
vende fatia em ativos de carvão em Moçambique para Mitsui
terça-feira, 9 de dezembro de 2014 16:43 BRST
RIO DE JANEIRO/SÃO PAULO (Reuters) - A Vale fechou
acordo com a japonesa Mitsui para vender uma participação na mina de carvão
Moatize, em Moçambique, assim como uma fatia no projeto ferroviário para
escoamento da produção, por estimados 763 milhões de dólares, como forma de
reforçar seu balanço durante um período de baixos preços das commodities.
Sob o acordo anunciado nesta terça-feira, a Mitsui
deterá 15 por cento da participação da Vale na Vale Moçambique (VM), com valor
atribuído de cerca de 450 milhões de dólares, mas o número final depende de
metas de produção para o projeto.
Os termos da transação podem fazer o montante final
variar entre 330 milhões e 480 milhões de dólares, segundo a Vale. A VM é dona
de 95 por cento da mina de Moatize.
O acordo chega em um momento em que a Vale, maior
produtora mundial de minério de ferro, foi atingida por uma redução pela metade
do preço da matéria-prima do aço neste ano, que a colocou sob pressão para
levantar recursos para concluir projetos.
Em conferência com jornalistas nesta terça-feira, o
diretor-executivo de Fertilizantes e Carvão da Vale, Roger Downey, afirmou que
a Vale enxerga "tempos muito difíceis para produtores de carvão em todo
mundo".
Apesar de evitar fazer projeções para os preços, o
executivo desenhou um cenário complicado para os próximos anos.
“Nossa bola de cristal não está aqui agora, mas a
gente ainda vê que os mercados vão continuar difíceis com muita pressão para
baixo sobre os preços", afirmou Downey.
"Provavelmente, nos próximos anos, até o fim
desta década, nós vemos ainda estoques altos na China e ainda uma força grande
para incentivar a produção de carvão na China, que é um grande comprador e
grande usuário de carvão, metalúrgico e térmico."
Segundo a Vale, a empresa japonesa será responsável
por financiar, de forma proporcional à sua participação, parcela no
investimento requerido para completar a expansão da mina, cujo valor é estimado
em 188 milhões de dólares.
Neste mês, duas fontes haviam informado à Reuters
que a mineradora venderia uma fatia de seu projeto de carvão para a Mitsui,
após a Vale afirmar há cerca de um ano que pretendia vender de 15 a 25 por
cento de seus ativos de carvão, espalhados entre Austrália e Moçambique.
A mina de Moatize produz carvão desde julho de 2011
e concentra os maiores investimentos da Vale no segmento.
Adicionalmente, a Vale informou que a Mitsui
passará a deter 50 por cento da participação de 70 por cento da Vale no
Corredor Logístico de Nacala (CLN), projeto que prevê conectar Moatize ao porto
de Nacala. A linha terá 912 quilômetros no total.
De acordo com a Vale, a Mitsui contribuirá,
inicialmente, com 313 milhões de dólares em instrumentos de equity e
quasi-equity, passando a deter 50 por cento desses instrumentos e a
compartilhar o controle do CLN com a Vale.
As ações preferenciais da Vale operavam em baixa de
2,44 por cento às 16h38, enquanto o Ibovespa caía 0,45 por cento.
PROJECT
FINANCE
Até a conclusão da transação, a mineradora
brasileira continuará a financiar o CLN com empréstimos ponte da própria Vale.
O investimento total projetado é de 4 bilhões de dólares, dos quais 1,9 bilhão
haviam sido executados até o fim do segundo trimestre.
A mineradora acrescentou ainda que negocia um
"project finance" com a Mitsui, com meta de captar até 2,7 bilhões de
dólares, de modo a financiar os investimentos de capital restantes e permitir o
resgate de parte dos empréstimos contraídos pelo CLN junto à Vale.
Após a conclusão da transação, que envolverá
aumento de capital e transferência parcial da dívida contraída por Moatize e
pelo CLN junto à Vale, a companhia brasileira passará a deter indiretamente 81
por cento da mina de Moatize e aproximadamente 35 por cento do CLN,
compartilhando o controle com a Mitsui.
"A venda parcial da mina e da logística do
conturbado projeto Moatize parece ter um preço muito atraente para a Vale...
particularmente no ambiente pobre do preço atual de carvão metalúrgico",
disse Tony Robson, analista da corretora canadense BMO Capital Markets, em nota
a clientes.
A conclusão do negócio com a Mitsui está prevista
para 2015, informou a Vale, pontuando considerar o acordo essencial para a
continuidade do investimento em Moçambique e Malaui.
A
companhia estima que, com o acordo, poderá evitar uma saída de caixa de 3,65
bilhões de dólares.
A Vale disse que a primeira exportação de carvão
pelo porto do projeto será no primeiro trimestre de 2015. O transporte
ferroviário, já em operação e em expansão, deverá ter capacidade para 22
milhões de toneladas/ano, o que está previsto para até o fim de 2016.
A empresa não quis divulgar os custos de produção
de Moatize, dizendo apenas que estava confiante de que poderia, eventualmente,
estar entre os mais baixos custos do setor.
(Por
Marta Nogueira, Stephen Eisenhammer e Priscila Jordão)
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