Este artigo foi escrito antes da reeleição de Dilma. Mas ainda hoje são
nossas palavras. O pais estará mais vazio, mais a mercê nos próximos quatro
anos. Perdemos a possibilidade histórica de desmascarar o PT, de enviá-lo de volta as classes
operarias, as universidades, ao debate democrático e alternância de poder. É um
partido esgotado, sem fôlego para renovações e o Brasil perde com esta turma
sem inspiração. Não foi escrito por nós mas são nossas palavras a compreensão
do momento que vivemos.
Em um artigo magnífico publicado nesta terça
no GLOBO, o historiador Marco Antonio Villa faz um breve resumo da trajetória
personalista e autoritária de Lula, mostrando como essa característica pode
afundar de vez o Partido dos Trabalhadores.
Desde os tempos de sindicalista, Lula demonstrava
esse viés narcisista e controlador. Sua enorme vaidade e sua ambição desmedida
fizeram com que fosse usando tudo e todos em prol de seu projeto pessoal de
poder, nada mais. Nunca soube cultivar outras lideranças. Villa escreve de
forma direta:
Lula, com seu estilo peculiar de
fazer política, por onde passou deixou um rastro de destruição. No sindicalismo
acabou sufocando a emergência de autênticas lideranças. Ou elas se submetiam ao
seu comando ou seriam destruídas. E este método foi utilizado contra
adversários no mundo sindical e também aos que se submeteram ao seu jugo na
Central Única dos Trabalhadores. O objetivo era impedir que florescessem
lideranças independentes da sua vontade pessoal. Todos os líderes da CUT
acabaram tendo de aceitar seu comando para sobreviver no mundo sindical,
receberam prebendas e caminharam para o ocaso. Hoje não há na CUT — e em
nenhuma outra central sindical — sindicalista algum com vida própria.
No Partido dos Trabalhadores — e que
para os padrões partidários brasileiros já tem uma longa existência —, após
três decênios, não há nenhum quadro que possa se transformar em referência para
os petistas. Todos aqueles que se opuseram ao domínio lulista acabaram tendo de
sair do partido ou se sujeitaram a meros estafetas.
Lula humilhou diversas lideranças
históricas do PT. Quando iniciou o processo de escolher candidatos sem nenhuma
consulta à direção partidária, os chamados “postes”, transformou o partido em
instrumento da sua vontade pessoal, imperial, absolutista. Não era um meio de
renovar lideranças. Não. Era uma estratégia de impedir que outras lideranças
pudessem ter vida própria, o que, para ele, era inadmissível.
Agora, esses “postes” podem se apagar. Fernando
Haddad é um gigantesco fracasso na Prefeitura de São Paulo, amargurando uma das
piores taxas de aprovação da história. Faz uma gestão que para ser apenas
medíocre teria de melhorar muito. Um “intelectual” incapaz de administrar um
condomínio, mas responsável pela cidade mais importante do país. O resultado
está aí, com trapalhada atrás de trapalhada.
Alexandre Padilha não consegue decolar como
candidato ao governo em parte como efeito dessa desgraça na gestão de Haddad.
Nem o populista programa Mais Médicos ajudou a empurrar sua candidatura, que
não sai do lugar e deverá ficar com menos de 10% dos votos dos paulistas.
No Rio, Lula bancou pessoalmente a candidatura de
Lindbergh Farias, mesmo passando por cima dos interesses partidários. Foi o que
levou uma ala importante do PMDB a fechar com Aécio Neves, criando a chapa
“Aezão”. Mas o “poste”, mesmo com sua cara de pau pintada, está abaixo de 10%
nas intenções de voto também. Outro que é mais pesado do que um hipopótamo,
incapaz de alçar voos mais altos.
E o maior “poste” de Lula, claro, é Dilma Rousseff,
a primeira “presidenta” do país, levada ao Planalto pelos braços de um homem,
mas ainda assim celebrada pelas feministas bobocas de plantão. Sua gestão é
mais que sofrível: é caótica! O país entrou em recessão, a inflação retornou
com força, os investimentos pararam, a indústria desabou e o clima é de total
desesperança.
Diante de retumbante fracasso, o que faz Lula?
Afasta-se estrategicamente de sua criatura, como se não tivesse nada a ver com
isso. Não vamos esquecer que Lula disse, na campanha de 2010, que Dilma era ele
e ele era Dilma, ambos uma só pessoa. O fracasso de Dilma é seu fracasso, mas o
“Oráculo de São Bernardo”, como espeta Villa, não pode errar, e por isso o
silêncio covarde agora. Villa conclui:
O PT caminha para a derrota. Mais
ainda: caminha para o ocaso. Não conseguirá sobreviver sem estar no aparelho de
Estado. Foram 12 anos se locupletando. A derrota petista — e, mais ainda, a
derrota de Lula — poderá permitir que o país retome seu rumo. E no futuro os
historiadores vão ter muito trabalho para explicar um fato sem paralelo na
nossa história: como o Brasil se submeteu durante tantos anos à vontade pessoal
de Luiz Inácio Lula da Silva.
Amém! Como disse o empresário Salim Mattar, da
Localiza, em corajosa entrevista recente, “ninguém aguenta mais” o PT, que mais
parece um ajuntamento mafioso do que um partido político. Seus membros
aceitaram se submeter ao comando absoluto de Lula, o líder carismático, o
milionário “homem do povo”, em troca das mamatas garantidas pelo poder. Muitos
acreditaram em seus supostos dons incríveis, seu toque de Midas para iluminar
postes e garantir a perpetuação nas tetas estatais.
Balela! Escrevi no mesmo jornal um artigo comparando
a ascensão política de Lula à econômica de Eike Batista. Ambos foram muito mais
levados pela maré chinesa do que qualquer coisa. O fenômeno político Lula tem
mais a ver com a política monetária frouxa do Fed, o banco central americano, e
com o acelerado crescimento chinês, do que com seus méritos próprios e carisma.
O populista estava na hora certa no lugar certo,
com muito dinheiro para comprar apoio. Achou que era um gênio. Não era. Nunca
foi. Perdeu três eleições seguidas, duas delas no primeiro turno para FHC,
motivo pelo qual jamais perdoou o sociólogo. E agora pode ter jogado a pá de
cal definitiva no PT que fundou, ao destruir qualquer liderança alternativa e
concentrar todas as fichas em seus “postes”, cada vez mais apagados.
Espero ansiosamente pela oportunidade de escrever
o obituário dessa praga chamada PT que tanto mal espalhou pelo Brasil…
Rodrigo Constantino
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